Mais de 33 milhões de pessoas no país não tem o que comer. É o que revela o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, lançado nesta quarta-feira (8). Sobre esse tema, a SINDUECE participou no dia seguinte de palestra promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), com apoio do ANDES-SN, no auditório do Centro de Estudos Sociais Aplicados da UECE, no Campus do Itaperi. Ao lado de dirigentes do movimento e dos influenciadores Léo Suricate e Diego Jovino, a presidenta do sindicato dos docentes, Virgínia Assunção, defendeu a experiência das Cozinhas Populares como política pública de Estado.
Lançada em março de 2021 em São Paulo, a ação nacional do MTST tem como objetivo servir, ao menos, uma refeição diária gratuitamente para a comunidade de cada local, nas periferias urbanas, incluindo dias de semana e finais de semana. Além da distribuição de refeições completas e balanceadas, o projeto dialoga e abraça, diretamente, uma importante iniciativa: o cultivo de hortas urbanas comunitárias nas periferias, que fornecerão alimentos para as cozinhas solidárias e, sempre que possível, para doação às comunidades próximas. Organizada em 10 estados brasileiros, a cozinha solidária no Ceará está localizada no Residencial José Euclides, conjunto habitacional situado no sul da capital cearense.
O apoio do ANDES-SN faz parte de uma deliberação do 12º Conad Extraordinário, promovido em julho deste ano, no qual foi estabelecida uma contribuição financeira do Sindicato Nacional ao Projeto Nacional Cozinhas Solidárias do MTST, para doação de alimento e quentinhas do MST e/ou para outras iniciativas de solidariedade dos movimentos sociais no combate à fome até o próximo Congresso. Na ocasião, a Direção do ANDES-SN indicou que as seções sindicais avaliem a possibilidade de realizar ações de solidariedade e combate a fome.
Insegurança alimentar
De acordo com 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil são 14 milhões de novas pessoas em situação de fome em pouco mais de um ano. No final de 2020 eram 19 milhões. É um aumento de 7,2% desde 2020, e de 60% em comparação com 2018. O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990, segundo o levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
As estatísticas foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12,7 mil domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas, mais uma vez, pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A edição recente da pesquisa mostra que 58,7% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau. Em números absolutos, são 125,2 milhões de brasileiras e brasileiros sem o acesso regular e permanente a alimentos. São três estágios: Leve (28%), que é a incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida; Moderada (15,2%), quantidade insuficiente de alimentos; e Grave (15,5%), que é a privação no consumo de alimentos e fome. A pesquisa anterior, realizada no final de 2020, mostrava que 55,2% da população brasileira viviam com insegurança alimentar, o equivalente a 116,8 milhões de brasileiras e brasileiros.
No Brasil de 2022, apenas 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação – ou seja, estão em condição de segurança alimentar. Os outros 6 lares se dividem numa escala, que vai dos que permanecem preocupados com a possibilidade de não ter alimentos no futuro até os que já passam fome.
Desigualdade regional
A insegurança alimentar segue como uma questão que atinge as regiões do Brasil de forma desigual. No Norte e no Nordeste, os números chegam, respectivamente, a 71,6% e 68% – são índices expressivamente maiores do que a média nacional de 58,7%. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média nacional é de aproximadamente 15%, e, do Sul, de 10%.
Percentualmente, a situação das e dos habitantes em área rural é mais grave, com a insegurança alimentar (em todos os níveis) presente em mais de 60% dos domicílios. Destes, 18,6% das famílias convivem com a insegurança alimentar grave (fome), valor maior do que a média nacional. A fome atingiu até quem produz alimento, estando presente em 21,8% dos lares de agricultoras e agricultores familiares. Já o contingente de famintas e famintos em área urbana é de cerca de 27 milhões (15%) nas cidades do Brasil.
Assim como na primeira edição do inquérito, a restrição de alimentos em qualquer nível é mais presente em 65% dos lares chefiados por pessoas pretas ou pardas. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%, em pouco mais de um ano. Já nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%.
A fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos – de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atingiu 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.
Fonte: Rede Penssan, com edição e acréscimos do ANDES-SN e da ascom da SINDUECE.