Docentes da Universidade Estadual do Ceará (UECE) decidiram em assembleia geral, realizada no fim da tarde desta quinta-feira (8), que retomarão as discussões sobre paralisação caso a universidade não garanta a permanência do 3×1 e/ou decida por retorno presencial ou híbrido de forma imediata sem condições de biossegurança. A assembleia docente foi convocada pela Direção da SINDUECE após a promoção de plenárias com todos 12 centros acadêmicos e faculdades e a participação de mais de 400 pessoas para ouvir a categoria, discentes e servidores sobre o decreto do governador Camilo Santana que autorizou, desde o dia 28 de junho, o retorno das atividades presenciais nas instituições de Ensino Superior no Ceará.
“Eu vejo esse decreto do governo como terrorismo, meus alunos estão apavorados com medo de se contaminar, de adoecer e de contaminar os parentes”, pontuou a professora Lucíola Maia (CED/UECE). Para ela, a universidade já convivia com a precariedade antes da pandemia e não tem a mínima estrutura de receber neste momento as atividades presenciais diante dos novos desafios. “Se não tinha papel higiênico como é que vai ter álcool em gel, distanciamento? Isso é um insulto do governador à nossa categoria, é jogar os professores na lama. Abandonou a UECE e o salário dos professores”, denunciou. Já o professor Frederico Costa (FACEDI) ressaltou que os professores nunca pararam de trabalhar durante a pandemia: “Primeiro, estamos trabalhando e muito. Segundo, nós queremos continuar trabalhando. E nós queremos viver. Trabalhar sim, morrer não”, defendeu. Segundo ele, o governo do Estado aposta na precarização como forma de dar continuidade às atividades da UECE sem a realização de concurso para docentes, o que tem comprometido há anos o funcionamento de diversas unidades acadêmicas.
Outro ponto debatido durante a assembleia, que chegou a contar com 96 participantes ao mesmo tempo na sala do Meet, foi a proporção conquistada no Plano de Atividades Docente (PAD) de três horas de planejamento para uma hora de sala de aula. “O PAD 3×1 é uma conquista da SINDUECE e que, diante das condições excepcionais durante a pandemia, tem contribuído para minimizar o adoecimento de professores e alunos”, defendeu a professora Virgínia Assunção, presidente da seção sindical. Ao relembrar o histórico trilhado no último ano contra a precarização do trabalho docente, a dirigente alertou que o futuro da medida será decido na próxima reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UECE, convocada para a tarde desta sexta-feira (9), e que, por isso, é importante a mobilização dos professores para conversar com os representantes de centro/faculdade que tem assento no Conselho.
Alguns argumentos utilizados para criticar a proporção de 3 horas de planejamento para 1 hora de atividade de sala ignoram a realidade de adoecimento de professores e alunos no cenário atípico de pandemia, avalia a professora Camila Dutra (Geografia/CCT). “Nós mulheres somos as mais prejudicadas. Não adianta pensar em uma oferta normal de disciplinas se não estamos vivendo na normalidade”, argumentou. No mesmo sentido, a professora Sandra Gadelha (FAFIDAM) complementou que, se o trabalho remoto tem sido fator de adoecimento para todos, para as mulheres é ainda pior, já que elas sofrem com a carga adicional de trabalho estruturalmente imposta. “Essa é uma questão seríssima para nossa saúde e não podemos como entidade sindical deixar de fazer o enfrentamento devido, forte, vigoroso, com nossas argumentações para que se mantenha o 3×1”, defendeu.
Entre os encaminhamentos aprovados na assembleia, por unanimidade ou ampla maioria, estão a defesa da manutenção da proporção 3×1 no PAD, o não ao retorno presencial e/ou híbrido sem todas as condições de biossegurança e vacina para toda comunidade, a defesa do concurso para professores efetivos e da prorrogação de contratos e seleções para professores com vínculo temporário, a rejeição da mobilidade de docentes entre centros e faculdades diferentes para assumir disciplinas sem professores e o retorno das discussões sobre paralisação da categoria caso não haja a permanência do 3×1 e/ou retorno presencial e/ou híbrido imediato sem as condições de biossegurança.