Centenas de famílias do Complexo da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, tiveram suas rotinas interrompidas ontem por uma operação policial desastrosa que, sob o pretexto de combater o crime organizado e apreender armas, resultou na ação mais letal da história recente do país. Até o momento, contabiliza-se 121 pessoas mortas.
O que o governo criminoso de Cláudio Castro (PL/RJ), que acumula episódios de operações letais no estado, chamou de “a maior ação da história do Rio de Janeiro” foi, na verdade, a maior chacina já registrada no estado, matando pessoas nas ruas e casas em plena comunidade, superando até mesmo a marca do Carandiru – que ocorreu em um presídio. Precisamos urgentemente refletir sobre qual sociedade estamos construindo quando, sem nenhum pesar ou pudor, parte da população celebra execuções sumárias a céu aberto, diante de cenas brutais e cruéis que ninguém jamais deveria presenciar.
A resposta ao crime organizado deve ser firme, mas jamais pode se sustentar na barbárie. No Brasil, não existe legalização da pena de morte, e nenhum crime autoriza o Estado a agir fora da lei ou sem julgamento. As imagens que circulam após o ocorrido revelam o fracasso da política de segurança pública e a falência do nosso senso coletivo de humanidade: corpos estendidos nas ruas, familiares chorando e recolhendo, com as próprias mãos, os corpos de seus filhos, irmãos e companheiros.
Uma sociedade não se constrói sobre o som dos tiros. É preciso investir em educação, cultura, oportunidades e políticas públicas que ofereçam futuro às populações mais vulneráveis. Defender os direitos humanos, em um momento como este, é mais do que necessário: é um ato de defesa dos que nos une enquanto humanidade frente ao avanço de um projeto que naturaliza o extermínio da população negra, pobre e favelada.
Nenhum chefe do crime foi morto. Nenhuma estrutura criminosa foi desmantelada. O que restou foram vidas interrompidas, de policiais em serviço, de civis que deveriam ter sido detidos e julgados conforme a lei e, conforme inúmeros relatos, até mesmo de pessoas sem qualquer envolvimento com atividade criminosa.
Não há segurança possível onde o Estado é o próprio agente da morte.
Por isso, amanhã, 31 de outubro, atenderemos a convocação dos movimentos sociais, defensores(as) dos direitos humanos no ato “Chamado Geral Contra a Morte” na Praça da Gentilândia, a partir das 17h, respondendo ao chamado coletivo contra a morte e o extermínio.
 
								